domingo, 12 de agosto de 2012

Tecnologias sociais e políticas públicas


Tecnologias sociais: por que não pensaram nisso antes?

Muitos conhecem mas poucos sabem o que são tecnologias sociais (TSs). Elas estão espalhadas por todo lugar, mas, por serem extremamente simples, nem sempre o status de tecnologia lhes é facilmente conferido.
Estão relativamente disseminadas, em várias áreas (há tecnologias para a saúde, a educação, o meio ambiente, a agricultura etc.), e chegam a pessoas de norte a sul do país. Todavia, espalhadas como estão, vivem isoladas umas das outras e representam soluções parciais. Não se integram a ponto de representar uma solução conjunta para políticas sustentáveis.
Existem algumas tão geniais, tão inovadoras, tão simples e tão baratas que provocam uma reação imediata em qualquer pessoa: a de se perguntar por que não se pensou nisso antes.
A pergunta traz dentro de si curiosidade (com a tecnologia), satisfação (de saber que foram pessoas inventivas e empreendedoras que as criaram e que tudo parece pronto para ser aplicado) e indignação (porque presumimos que poderíamos estar muito mais à frente se essas inovações já tivessem ganhado escala para chegar às pessoas que mais precisam dela).
Vistas apenas como boas práticas, deixam de ser enxergadas no horizonte das políticas. Há tecnologias que ao mesmo tempo são agrícolas, ecológicas, econômico-solidárias, promovem a segurança alimentar e representam modelo de negócio com planejamento de expansão; porém, justamente por serem multissetoriais, precisariam de um amplo leque de articulação entre as organizações da sociedade e várias áreas governamentais para garantir a plena realização de todas as suas dimensões.
Em geral, as TSs têm dimensão local. Aplicam-se a pessoas, famílias, cooperativas, associações. O que a princípio é uma vantagem é também uma dificuldade para que sejam vistas em termos de um projeto nacional.
objetivo deste capítulo, mais do que dizer que as TSs existem e são importantes, é chamar a atenção para o fato de que, pela primeira vez, há uma série de condições reunidas que podem promover um salto em escala e profundidade a esse respeito no país.

Uma definição construída coletivamente esclarece que as TSs são um "conjunto de técnicas e procedimentos, associados a formas de organização coletiva, que representam soluções para a inclusão social e melhoria da qualidade de vida".(1) Muitas tecnologias se orientam sobretudo pela simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto social, mas não estão necessariamente associadas a organizações coletivas. São idéias boas e baratas, mas as pessoas não precisam se organizar coletivamente para melhor utilizá-las.
A multimistura, complemento alimentar largamente utilizado no Brasil no combate à desnutrição, por exemplo, tornou-se uma TS a partir do momento em que passou a ser a base do trabalho de várias organizações de assistência, creches populares e principalmente das pastorais. Em vários estados e municípios, tornou-se política de segurança alimentar o apoio às organizações sociais responsáveis pelo mapeamento das áreas mais pobres, a identificação das crianças com maiores carências de nutrientes e o fornecimento da multimistura para combater a desnutrição.
As cisternas de placas pré-moldadas, que servem de reservatório para acumular a água da chuva e proporcionar o abastecimento durante o período de seca, permaneceram por muito tempo apenas como uma boa idéia. O modelo hoje multiplicado nas regiões mais secas do Brasil foi criado há quase 25 anos por um inventivo nordestino que adaptou a técnica de construção de piscinas, que aprendera em São Paulo, para criar reservatórios de água no sertão.

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